domingo, 2 de agosto de 2009

O bolso do casaco do Tio

O carro deu ré até chegar perto do portão que , suponho, costumava ser branco. Me senti um pouco sem jeito, o homem nos fitava como se fossemos algum ser de outro mundo, e a impressão que tive foi que ele é quem era.

Houve hesitação para que o portão fosse aberto. Os olhos fixos do homem, a boca torta da mulher , aquelas paredes manchadas pela terra vermelha e uma atmosfera quase estática compunham não só o quintal da frente da casinha; eram praticamente o ar da cidade toda.


Logo reconheceram-se, e quando fui cumprimentar o Tio não consegui escapar de seus olhos parados. Era como se eles dominassem os meus e os fizessem encolher-se , pouco a pouco, em um canto qualquer de meu rosto.

Entramos.

O sofá velho de algum material que imitava o couro grudava em minhas pernas enquanto nos contaram todas as novas e velhas da cidade. Algo que me irritava muito era quando o olhar do Tio ficava fixo no chão vermelho, entre seus dois pés, fazendo uma pequena pausa antes de recomeçar o discurso. Sua camisa, suponho, costumava ser branca também.

Tenho uma notícia, pausa, um tanto ruim sobre mim mesmo, disse . Eu tentava adivinhar o que seria enquanto ele articulava seu pensamento com os olhos bem longe.

Nenhum comentário:

Postar um comentário