segunda-feira, 22 de março de 2010

Segunda feira, 22 de Março de 2010


Confesso que muitas vezes imagino diálogos entre nós, dado que as circunstâncias nos privam de qualquer interação. Reconheço que não é uma prática saudável, mas quem é que se importa com saúde em dias como esses?



Você me pergunta se acho que vai ter uma volta.

Bom, não posso afirmar com consistência qualquer acontecimento futuro consequente de nossa relação no período presente, como já fiz no passado, com negações vivazes ou promessas pretensiosas acerca do que víamos pela frente. A verdade- como a tenho buscado!- é que, agora, proponho-me a afirmar o que digo com cada vez menos consistência. O futuro é incógnito, meu caro! Incógnito, e , por favor, deixemos o romantismo de lado de uma vez por todas. A esperança, o arrebatamento, a solubilidade das expectativas quando se está apaixonado são, de fato, aspectos lindos da vida. No entanto, são muito mais benévolos e bem aproveitados na vida de um sujeito enquanto meras observações acerca da situação de terceiros.
Vejamos o caso de um rapaz loucamente apaixonado que devota todo seu tempo à sua amada - se não me engano, você já usou este caso para exemplificar algo sobre o empenho do tempo, não me lembro muito bem. Seu trabalho, seus estudos e sua convivência social estão muito, senão totalmente, comprometidos pelo estado de espírito em que se encontra, e qualquer atividade será posta em segundo plano se não relacionada ao amor que sente, acarretando inúmeras consequências futuras, as quais nem me agrada imaginar. A euforia, meu caro, só conduz ao desastre.

Quer saber se estou escrevendo em novas páginas.
Honestamente? Não. Tudo o que faço neste momento de minha vida está sob a ação da resultante de duas forças: aquela que me puxa para nosso passado, cuja influência em meu presente neguei e menti, e aquela que me impulsiona à mudança e ao novo.


Questiona, com ironia, se superei o que aconteceu.

Digo, com toda consistência que me permito ter, que o superei. Nego, com toda consistência que me permito ter, que superei o que aconteceu. Há uma linha tênue entre você, como indivíduo, e você, como acontecimento. Para minha infelicidade, sobretudo às segundas feiras, essa divisão perde a nitidez e os dois se fundem, mesclando-se e infiltrando-se no solo fecundo de minhas ideias e germinando, ali, pensamentos os quais prefiro não registrar. Afirmar é aceitar, e definitivamente não quero internalizar os conceitos que, vez ou outra, figuram em minha mente.


Não me importo com você. Não escrevo a você, não me dirijo a você. Me importo comigo, escrevo a mim mesmo e me dirijo ao meu eu mais profundo. Afirmar é aceitar, e , agora que afirmo, me contradigo e percebo o quanto minha honestidade para comigo mesmo compromete a situação em que me encontro, pois acabo de dizer inúmeras coisas que tem contribuição ao meu bem estar inversamente proporcional à sua veracidade. Contudo, aceito que é assim que sou e que, como não me esforço um tanto que seja para isso, não vou mudar . Tenho quase certeza que você já me disse algo parecido certa vez, e até me lembro vagamente do que foi, mas aqui reafirmo(se é que posso) minha presumida indiferença privando essa carta de citações de nosso passado.



Post-scriptum: Não me dei o trabalho de reler o que foi escrtito a procura de falhas ou incoerências. A hora está já muito avançada e, para dizer o que eu gostaria (e muito) que fosse verdade, pouco me importa o que você abstrairá disso. Contanto que esta carta chegue a você, minhas expectativas serão atendidas e eu me satisfarei. Novamente, não pretendo aqui iniciar um diálogo. Declaro, sem pudores, que este é um monólogo e você, amigo, não passa de um coadjuvante em terceiro plano.

2 comentários:

  1. Entendi. Quer dizer então que eu tenho neste momento 2 pontos de vistas que criei: 1º a carta seria para mim diretamente e 2º, a carta seria para uma terceira pessoa, mesmo que eu esteja lendo-a para voltada a eu.
    Não sei muito o que dizer, mas devo dizer que esta é a forma mais eficiente de se transmitir uma mensagem a outrem, isso se o destino tiver conhecimento do seu blog. Caso contrário, a pior parte sempre será o não conhecimento dele e sim de pessoas como eu que não estão diretamente na história.
    Lembrei do Sherlok Holmes que li hoje, tinha um Post-Scriptum, e garanto que isso é ótimo pelo fato de normalmente nos depararmos com PS sem saber ao certo o que é mesmo...
    Boa sorte e se importe mesmo é com você!!!

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  2. É, eu até que gostaria, em termos, de estar escrevendo isso pra alguém. Ou não. Enfim, quero dizer que não estou. É claro que imprimo alguma coisa daquilo que acontece na minha vida em tudo o que faço, mas não é tão objetivo assim. Tudo aquilo inteira ou parcialmente relacionado à minha vida de forma explícita está em "A gaveta pessoal". O resto, só eu sei o que é verdade e o que não é- creio eu

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