Querendo ou não, tudo são as escolhas que se faz. Não há maneira alguma de anular as perdas. Toda escolha é uma rejeição, todo sim é também um não e todo dia, ao acordar, você é responsabilizado por tudo aquilo que vai ou não te acontecer. É o preço que se paga.
O intrigante é : por que diabos eu tenho de pagar uma dívida que nunca contraí? Descartando a metafísica, a Igreja e o raio que parta, em momento algum me lembro de ter pedido para nascer.
Não quero dizer que não aprecio essa vida e que não a valorizo; estou aqui, devo continuar até que as circunstâncias me impeçam disso. Mas não há como deixar de pensar que viver é, sim, um gasto inútil de energia: nasce-se, cresce-se, estuda-se, chora-se, ama-se, fere-se, ri-se, acasala-se, sente-se, morre-se. No final, tudo volta para o Zero. É um intervalo grande, mas um deslocamento pequeno. Uma mínima força que gera o máximo progresso, a maior mudança, o mais alto lucro, é uma força bem empregada. A vida não traz progresso, e o mais próximo que se chega disso é contribuir para a melhoria da humanidade.
Está aí uma dos conceitos mais curiosos da mente humana: a notoriedade. Só parecem ativos contribuintes para a história da humanidade aqueles cujos nomes estão nas apostilas de história e nas placas das ruas. Se dentre um bilhão, apenas um se destaca, então por que nasceram tantos outros? Tentativa e erro?
O individualismo me apraz? Não incomoda, e tampouco agrada. É uma condição da contemporaneidade, não há como lutar contra ele- e nem valeria a pena. Um não faz qualquer diferença para o todo, e o todo, por conciliar interesses de muitos e demorar a provocar mudança, também não faz diferença alguma para o um. Se estou incomodado, quero mudança, mas deve ser agora. Se for demorar, não. Não quero mais a mudança. O incômodo morrerá junto a mim. O altruísta tampouco se preocupa realmente com o todo; se o fizesse, jamais morreria, para não abandonar uma responsabilidade. Essa é uma dívida conscientemente contraída. A de viver não é. Logo, posso morrer se dar a mínima à humanidade, e assim justifico meu individualismo.
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