segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Ao estalar dos dedos

E de repente invadiu-lhe a sensação de ser muito mais do que tudo aquilo. De estar em constante expansão, e de que não precisava da relatividade, do exercício nº 4 ou das rubricas de ninguém para poder se expandir. Simplesmente funcionava assim, e pronto.

Cultivou essa ideia por algum tempo. Desejava colocá-la dentro de seu marsúpio, e protegê-la como a mãe protege sua prole. Finalmente encontrara o elo entre a legião de pessoas que já fora e que chegaria a ser. Um Zelig desvendado. Entre todas as férias de julho, todas as tintas, todos os desromances, as meias sujas, as passagens de ônibus e as noites solitárias de sexta não havia mais que uma dimensão compressível e relativa. Tudo que lhe passara e poderia ainda passar parecia estar ao alcance das mãos.

Era como respirar após um longo e interminável mergulho. Sentia-se como uma metáfora velha e gasta, um chavão. E seus grilhões, conhecia-os muito bem. Evasão. Era disso que necessitava.

Os lábios repetiam "é isso!", e o som ecoava por cada milímetro cúbico, até chegar na cabeça. Essa, relutante, dizia "não".

"Não".

"Não".

Era "não", e voltou ao que era antes.

5 comentários:

  1. Já senti isso. Mas foi por tempo limitado, como tudo é.

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  2. Ficou genial o design (como sempre). Lembrei agora do primeiro. Tudo (ênfase no "tudo") mudou muito desde então.

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  3. Nem precisa falar... Engraçado que faz pouco tempo (uns 4 anos), mas parece uma eternidade. Muita, muita coisa mudou, é até difícil avaliar. Só que ainda cheira a espírito adolescente, e nós ainda somos o duet mais lindo desse Brasil agreste e tupiniquim.

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  4. É. Mas quer saber? To com saudade/vontade/necessidade daquele "feels like spring time". If you know what I mean.

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  5. Pra mim isso se resume a uma tarde de janeiro em um quarto com cheiro de tinta na qual vem aquela percepção de "eu exito!" , hahah.

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