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quinta-feira, 8 de dezembro de 2011
Ensaio Gutural
Janeiro, mês de dias quentes e noites abafadas, profundas,ambíguas. São noites de vida que compensam o frenesi dos primeiros dias de início de ano. Noites em que vale a pena se arriscar escuridão adentro.
Ao fundo, se ouve o som distante de cães latindo, risadas agudas perfuram o silêncio aqui e ali. Todos no mundo, sem exceção, estão fazendo alguma coisa, até mesmo que não faz nada. Todos embebidos no aroma pungente de uma noite de verão, esse almíscar discreto que suscita até no mais sensato o instinto primitivo de sair da toca e vagar por aí. Não existe, em todo o universo, coisa mais animal do que a noite. É a hora em que o homem esquece ser homem e faz tudo o que faria se ninguém pudesse vê-lo. Mas se engana aquele que pensa que as coisas, no escuro, não podem ser vistas. Os sentidos afloram ao passo que a racionalidade involui. O quese faz na noite, ante mesmo de ser visto, é sentido; sentido com a sinestesia noturna que só quem é bicho pode entender.
Será numa noite como essas que tudo acontecerá, ou melhor, que tudo deixará de acontecer. O notável dessa noite não será algo realizado, e sim uma quebra. Há uma clara –ou melhor, escura– distinção entre o aceitável e o inaceitável durante a noite. É uma linha que divide o mundo em dois: a luz, onde reina a moral, a razão, a família; e a falta dela. Sobre esta, não se pode declarar nada. Existe, entre todos que nela entram ou saem, uma jura de silêncio selada inconscientemente. Tudo que se pode dizer sobre o escuro é meramente gutural.
A noite referida, pois, configurará o fim do mundo como o conhecemos , ao mesmo tempo que delineará o início do nada. A noite deixará de ser a falta de luz para ser a presença da escuridão. E o escuro avançará por cima de tudo, e será o regente do mundo que antes a luz iluminava. Será o dia em que a vida e o destino fecharão os olhos para tudo o que acontecer por aqui. Na luz, tudo o que se faz, se paga; na noite, não é bem assim. Não há registros de qualquer coisa que foi sequer pensada no escuro.
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