Ao sentar no primeiro banquinho, ao lado das duas companheiras, o atendente se ofereceu pra abrir minha cerveja. Quando terminou o gesto de estender a mão molhada por cima da estufa de salgados, a tampinha de alumínio já estava caída sobre o balcão, levemente amassada com a marca de um dente.
-Moça, isso aí é perigoso...
Ele realmente tinha uma ótima intenção- alertar uma jovem moça para que não perca um dente abrindo uma long neck. Mas se eu realmente quisesse ouvir bons conselhos, teria ficado em casa. Se quisesse que alguém estranho falasse comigo, teria ido a um bar. Mas eu não queria ouvir coisa alguma.
- ... a gente esquece, mas o dente é a coisa mais preciosa que a gente tem.
- Pois é, eu sei. Todos esses meus dentes de cima são dentadura- terminei, sem sorrir, antes de me dar conta de como era bonito aquilo que me dizia.
O dente é a coisa mais preciosa que a gente tem. Dente. Preciosa.
O atendente se afastou do balcão, ignoro se ofendido, resignado ou pressupondo minha embriaguez. Eu fiquei com as risadas dos amigos e um amargo na boca, que certamente não vinha da cerveja.
O que pude registrar da poesia acidental ficou no caderninho, tudo reproduzido abaixo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário