sábado, 9 de novembro de 2013

The Método

I now realise everything my brain wants to tell me and somehow  I won’t be very pleased to hear comes in English. Right now, for example, it comes to my mind that I’ll never be a good writer unless I get out of my own head and start looking at the world. And it does make a lot of sense, and even gives me a little shred of hope. When translated to my native language, however, it does get a lot less appealing and a lot more pretentious. Talvez porque eu não queira reconhecer que, se até hoje tudo o que escrevi foi sobre mim mesma, esse recém-descoberto conceito de boa escrita anula todo e qualquer talento que algum dia acreditei ter- ou qualquer outro modo mais adequado de se chamar a habilidade de escrever coisas que as pessoas gostam de ler (ou, pelo menos, dizem gostar).
Todas as narrativas em terceira pessoa, os relatos em primeira, as cartas fictícias, os poemas, os narradores onicientes, tudo foi escrito por mim, para mim e sobre mim. E a parte mais irônica (talvez também a mais triste) é que, mesmo o microcosmos de minha pseudo-literatura sendo desde o recrudescido início inteiramente focado e apontado para mim mesma, nem eu acabava gostando do que escrevia. Detesto e acredito que continuarei detestando tudo o que escrevi até o dia de hoje, mesmo se , contrário às estatísticas, alguma parte dessa ínfima produção seja de fato palatável.  Neste infindável sentir-grafar-detestar , acabei por criar um ciclo que trata de traumatizar e estigmatizar completamente o que ainda existe de esperança literária dentro de mim: surge a ideia e escrevo; mas a mim  esta surge mais como um anzol onde se pode espetar a isca para em dado momento fisgar um peixe do que como um grande espada enfurecido sob as águas do alto mar e que faz girar incessantemente meu molinete. É num processo diário de andar até a farmácia, pegar o metrô, assistir a uma palestra ou comer peixe empanado que encontra-se esses pequenos anzóis escondidos. De alguma forma eles devem ser guardados, pois nem sempre se está cem por cento equipado para a pescaria em alto mar. Os anzóis das histórias são reais, e as iscas que se colocam neles são geralmente escolhidas a partir do peixe que se quer pescar, às vezes são até feitas de penas de pássaro, plástico fluorescente e pequenos guizos (ou seja, completamente artificiais). Da mesma forma, o desenvolvimento de uma história geralmente é inventado no sofá da sala, com um copo de suco de soja e um bloco de papel. Um pescador indeciso colocará as piores e mais esquisitas iscas em seus anzóis se não souber exatamente o que quer pescar- do mesmo jeito que eu não sei exatamente o que quero pescar, tampouco o que quero escrever, de modo que acabo por preencher os espaços em branco de minhas histórias com o pouco que sei da vida (que concerne geralmente ao limitado universo de minhas experiências e emoções). Por isso minha escrita é um lixo. Sem contar pela linearidade falha, pela ineficiência dissertativa e pelas metáforas aborrecedoras.
De qualquer modo,formulei recentemente- em Inglês, é dispensável dizer- um método aparentemente eficiente para resolver meus problemas literário-existenciais. Devo escrever sobre o que me acontece e o que sinto sobre o mundo tão logo essas impressões apareçam, numa base diária e com os rigores que aplicaria a qualquer texto a ser publicado. Paralelamente, devo seguir colecionando episódios, impressões e personagens colhidos no cotidiano , mas a princípio sem a intenção de encaixá-los em algum contexto narrativo. Até então, estarei exercitando a escrita, formulando pensamentos e narrativas, analisando o mundo criticamente e observando suas peculiaridades sob minha própria ótica, ao passo que a observação e elaboração de personas e consciências distintas de minha própria deslocariam um pouco a órbita dos pensamentos para um eixo distinto de meu próprio e raso umbigo- de modo a não interromper o fluxo de pensamentos e tirar a pressão de !olhar para o mundo e parar com a escrita medíocre”.
Finalmente, a médio-longo prazo,  juntando-se as partes e atando-se os nós, teria eu pensamentos formulados, personagens com backgrounds inusitados para pensá-los e situações peculiares e propícias para tais pensamentos e personagens acontecerem. Em outras palavras, eu teria em mãos uma história boa, suculenta com detalhes e nutritiva com críticas e observações sutis sobre a sociedade ocidental pós moderna.

Esse método supracitado, admito tê-lo formulado durante uma das inúmeras entrevistas que concedo ao espelho do banheiro quando passo perto dele. As circunstâncias em que foi criado, entretanto, não devem macular sua eficiência. Devo admitir que acho bonito como uma ideia tão estratégica e talvez até parecida com um plano de guerra de um grande general de bigode farto e preto do leste europeu pode nascer de uma coisa idiota e medíocre como uma auto-entrevista em frente ao espelho. E assim, num processo fluido e muito natural, minhas reflexões em frente ao espelho e um general de bigode muito preto são todas as provas de que preciso para a autenticidade do inusitado e brilhante método que criei. 

2 comentários:

  1. Acabo sempre voltando aqui... Vício de viver um pouquinho desse seu mundo que parece ser muito mais insustentável que o meu.

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