terça-feira, 29 de setembro de 2009

No hall da filosofia

O motivo da miséria humana é a própria condição humana. Não reconhecemos que , acima (ou abaixo?) de tudo, somos simples mortais. Somos imperfeitos, resultado de um frágil equilíbrio de reações químicas, representantes de uma mínima parcela da matéria do universo e fadados a errar em uma razão de 1:2 das nossas tentativas. Resumindo, somos a poeirinha da poeirinha do universo. E ainda assim nos sentimos absolutos e donos da razão.
O tempo todo estamos controlando e modificando, desde nossa aparência até as situações às quais estamos submetidos . Da fruta que você come até o amor que você sente, tudo, tudo mesmo foi planejado, mas você não se dá conta disso. O ser humano cria e arranja de tal forma que tudo parece acidental, e quando não modifica a vida, ele se permite ser afetado por ela.
É um grande avanço, se comparada a condição dos humanóides nômades de tempos atrás. Entretanto, perdeu-se a conexão com o interior. Macrobiótica, ioga, religião, nada disso se relaciona ao veradeiro interior. É algo muito mais profundo.
O interior é o alicerce de toda a realidade (ou projeção de realidade?) que nos cerca . Todos os resultados, as relações, os fenômenos, as capacidades, tudo se dá em decorrência do interior, do núcleo, parte intangível e invisível do ser, e que, por apresentar tais características, é desconhecido e muitas vezes negligenciado.
Não obstante, as necessidades "nucleares" nunca são ignoradas, são apenas confundidas com as externas- as chamadas "vontades" ou "aspirações". Quando atendidas em detrimento das nucleares, essas necessidades externas causam a impressão de satisfação por um período de tempo, até que ocorre o desabamento. É aí que vem a desilusão, a dúvida, a tristeza, a miséria humana. Mas por quê?
É uma situação análoga à construção de um edifício: primeiramente, são feitos os alicerces, a base de tudo, onde se fundamentarão as posteriores estruturas visíveis no exterior. Quando essa base é malfeita ou carece de estrutura consistente, a construção pode parecer estável tanto estrutural quanto esteticamente. Entretanto, com o passar do tempo a estrutura pesa e acaba se desestabilizando, podendo ocorrer desde pequenas fraturas até a destruição total da construção.

Portanto, por mais que sintamos necessidade de determinadas situações, relações interpessoais, sentimentos, e daí em diante, o que realmente precisa ser feito é a fundamentação, o preenchimento interior. Sem o amor próprio vindo de dentro- e não da necessidade que se tem de amar a si mesmo porque os outros já descobriram sua importância- não há o amor vindo de fora. Sem a autoconfiança não há como ser confiado. Sem a felicidade interior não há como sentir-se realmente feliz. Tudo tem de vir de dentro para fora, e não o contrário. Temos a tendência a pensar que o real é o palpável, o visível. O que não se leva em conta é a transitoriedade das coisas e o constante engano causado pela capacidade sensível do corpo.

Sendo assim, a chave para a plenitude que o homem vem procurando desde o início dos tempos está no contato com o interior, e este está muito distante do que podemos alcançar.

Um comentário:

  1. O problema está na visão dual que temos de nós mesmos, pensamos num corpo e num "espírito" quando somos um bloco só. Uma visão monista nos traria de volta ao que realmente importa, que em meu ponto de vista seria nossa relação com o meio.
    Sim, somos muito pouco dentro de um universo, mas para nós mesmos somos muito, aproveitar cada momento intensamente, materialmente e saborear cada sensação é básico porque essa existência é a única que temos... e é curtinha!
    beijo

    ps. ótima reflexão

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