17.02.2010 , 3h16min
Se começar, certamente continuo. Por pouco não digo que não há como parar quando já se começou. Se bem que, agora que coloquei no papel essa idéia de alguns segundos atrás percebi que discordo do eu que se manifestou mais recentemente. É claro que nunca se para, uma vez que se começa.
E quando paro de pensar, depois que penso
E penso à beça
Vejo que não há como parar,
Uma vez que se começa.
De fato, uma vez que se começa, nunca se para. O que pode haver é um hiato, uma pausa , mas nunca um término definitivo. Mas, se for assim, não estou começando, estou retomando . É isso, retomando.
Mas, então, quando se retoma, o que acontece?
No começo, tudo é mais brando. "Vá com calma, ela só está começando" soa bem, e pode até convencer um homem de meia-idade cuja esposa ficou flácida depois que nasceu o segundo filho a assediar menos a stripper oxigenada que dança no poste à sua frente. Ou não. Strippers servem para serem assediadas.
E eu? Não gosto de me comparar a uma stripper. O mais perto que já cheguei foi uma vez que, no metrô, perdi o equilíbrio e escorreguei pelo mastro. O peão suado atrás de mim quis colocar uma nota do meu bolso, mas eu não deixei.
"Que calor horrível! Ainda bem que não sou uma vela!" . Não tem muito o que se comentar sobre uma fala dessas. Existem frases que realmente deixam qualquer um sem palavras. Essa é uma delas. Acho que a pessoa que a escreveu viu sucesso garantido. Pessoas engraçadas são sempre mais bem recebidas, e não há jeito mais fácil de ser engraçado que apresentar conclusões originais e fora do comum no meio de frases rotineiras, tudo salpicado com a maior naturalidade. "Que calor horrível!" todos dizem. "Ainda bem que não sou uma vela!" ninguém diz.
"Numa intensa tarde de verão, M. comentou consigo mesma:
- Nossa, está muito quente...estou derretendo.
Tomou um largo e demorado gole de chá gelado do copo suado e frio que por pouco não escorregou de suas mãos delicadas. Logo mais, como se a refrescante bebida que descera pela garganta tivesse, de alguma forma, clareado seu pensamento ao mesmo tempo que refrescado o corpo, refletiu:
- Se eu fosse uma vela, que é feita de cera e derrete com o calor, seria muito, muito pior"
Não gosto de baratas. Elas se movem de um jeito estranho, e irritam só por existirem. E quando resolvem ficar batendo na parede, então? Que coisa ridícula, arranjem o que fazer! Com tantos males no mundo, tanto lixo pra ser decomposto, você ficam aí, feito baratas tontas, andando em círculos e lambendo migalhas? Há um mundo de possibilidades lá fora, pensem grande!
O pior é agora, no verão, que a mães baratas estão tendo filhotes. Se você ver uma barata bem gorda, andando vagarosa ou em trajetória confusa, pode ter certeza que está grávida ou dando a luz. Agora há pouco houve um genocídio debaixo da minha mesa. Peguei um chinelo e táu, dei um certeiro numa marronzinha que estava passeando pelas minhas coisas. Quando fui ver, que coisa horrível...ela estava esperando 94 filhotinhos. Tentei salvá-los, mas eram muito prematuros, e eu não tinha nem uma caixa sequer de leite de barata em casa. Teria feito um minuto de silêncio se aquela maldita janelinha do MSN não estivesse piscando.
Fiquei profundamente abalada. Sinto a presença dos 94 espiritinhos a maior parte do tempo. Parece que estão no meu rosto, subindo pelas minhas pernas. Nesse escuro não dá pra ver o que é que faz cócegas, então eu dou uns tapas e cruzo as pernas na cadeira. Que nojo.
O que é a força do pensamento! Estava eu, quieta, na cama, assistindo a um filme quando senti minha perna coçar um pouco. Passei a mão, nada de mais. Coçou de novo, cocei de novo. Na terceira vez que fui coçar, senti uma coisa estranha. Dei um tapa e ouvi um tec, como se algo tivesse caído no chão. Fui olhar e o que foi que vi? UMA BARATA ! Estou quase certa de que foi o marido da barata que matei, e pai dos filhotes que impedi de chegarem a esse mundo. Ele quer vingança.Nunca mais vou usar a mão esquerda. Empurrar a barata pra fora da minha cama foi a última tarefa que esse membro infecto realizou. Não tenho mais mão esquerda.Esse filme que vi é muito, muito desconcertante. Acabou e eu me senti como se estivesse faltando o filme. Eles se conheceram no hospital, ela é diferente, ele é problemático, 4 personagens principais, cada um com seu drama. Ele passou a vida dormente. O amigo é um vagabundo eu só fuma maconha . O outro ficou rico e vive disso. O pai tem problemas com o filho e ficou viúvo. Ela não tem problemas. Ele foi embora e a deixou chorando na escada. Voltou quando ela chorava na cabine telefônica, disse que a amava e acabou. Quatro dias antes o filme começava com a morte da mãe e a exposição de uma vida sem graça e cheia de remédios de um cara de 26 anos. Quatro dias depois o filme acabava com a resolução dos problemas do moço, total tomada da liderança na vida e uma promessa de futuro promissor com a moça. Isso tudo sem clichês. É um bom filme, mas me fez chorar. Gosto dele. Me faz sentir conforto. Acho que esse é o verdadeiro ponto de gostar de alguém. Não vale a pena se desesperar, perder a linha e enlouquecer num amor impossível. Eu gosto dele e estou bem, plena, feliz. Fui coçar meu nariz e usei a mão esquerda. E agora? Tenho muito, muito sono. Já são quatro da manhã do meu aniversário Hoje é quarta-feira de cinzas, meu aniversário Não parece meu aniversário, eu ainda não dormi, não pode ser meu aniversário Vou dormir e acordar com um ano a mais.
- Vou dormir agora, mas não vai adiantar nada. É como se eu nunca dormisse de verdade. Um dia eu acordei, então nunca mais vou deixar de estar acordado.
Vejo que não há como parar,
Uma vez que se começa.
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