"E houve um tempo, então, em que o uso de pára-quedas tornou-se comum.MIGUEL DA SILVA, Eduardo . (2010)
As pessoas saíam de casa , não importava a hora, o destino ou o clima, com o acessório nas costas. Passou-se tanto tempo com esse costume, com novas inovações surgindo e substituindo o pára-quedas uma, duas, três vezes, que sua utilidade foi esquecida.
Chegou um momento , em tempos tão avançados e com pessoas tão acomodadas e sem curiosidade, em que apareceu um garoto tão jovem quanto eu e tão jovem quanto você ( não importando a natureza da idade- espiritual ou natural, não vem ao caso), que teve uma ideia. E se ele desobedecesse sua mãe - como em tantas outras situações, em sua juventude tão atribulada e cheia de não-fazeres - e saísse sem pára-quedas?
E foi com essa ideia na cabeça que ele planejou, teve aventuras e conquistou cidades inteiras, logo após derrotar exércitos inderrotáveis liderados por vilões sem escrúpulos e que só sentiam alegria com a guerra. Isso tudo, é claro, ele imaginou em sua casa, entre o almoço e o jantar, antes de dormir, logo quando chegou da escola, na hora em que acordou, sem precisar desobedecer sua mãe e causar preocupações desnecessárias.
Como toda criança, ele se divertiu muito com uma ideia, E, como toda criança, ele se esqueceu e cresceu. Sua vida foi deixando de ser divertida, as atribulações passaram a afetá-lo, afazeres inadiáveis passaram a ocupar seu tempo e ele não planejou, não teve aventuras e não conquistou cidades inteiras. O garoto jovem desapareceu e, em seu lugar, apareceu um homem tão velho quanto eu e tão velho quanto você.
Observando seu neto mais novo, ele se lembrou que já vivera daquela forma, tão feliz e despreocupado, e se lembrou também daquela ideia de desobedecer sua mãe. Passou a mão nas costas e riu, pois já havia deixado de usar aquela inutilidade há muito tempo. Passou a mão na cabeça e sentiu seu capacete- que agora era totalmente inútil, já que diversas outras invenções acabaram por substituir esse item de segurança do tempo das cavernas . Agora ele não precisava desobedecer sua mãe, mas, também, para que ia deixar sua comodidade? Ele não era mais curioso, e nunca mais planejou , ou teve aventuras ou conquistou cidades."
É, Dudu, você e o Goethe estão pau a pau no tocante a citações aqui no blogue. Se bem que, os bacharéis que me desculpem, você é muito melhor.
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