Quando descobri os girinos, passei tardes pegando-os no açude com uma peneira. Eu gostava de ver aquela massa escura e brilhante pulsando. Queria um cachorro, mas não tinha. Então, levava os "giriminos" pra casa.
Na cozinha da casa da Fazenda, minha mãe colocava-os em potes vazios de azeitona, geleia ou palmito. Em meus seis ou cinco anos, aquele nadar frenético de uns bichinhos pretos era quase que hipnotizante. Melhor ainda que a televisão.
Mas teve um dia em que eu estava jantando miojo e um desses potes, o mais cheio, caiu. E lembro de que a massa pulsante, ainda mais brilhante misturada aos cacos de vidro, não me agradou nem um pouco. Eu só não soube o que fazer. Minha mãe teve que varrer o chão da cozinha e recolher a sujeira com uma pá.
Sem que ninguém me dissesse palavra, de repente me senti muito mal. Eu trouxera os giriminos pra casa. Eu derrubara o pote. Eu transformara os giriminos em sujeira.Acho que foi nesse dia que eu senti uma das coisas que acompanham as pessoas até o fim da vida: a culpa.
Foi por culpa minha que os giriminos caíram no chão.
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