Teve um dia em que, não sei por qual razão, meu pai me
ensinou a estratégia das piranhas. Estávamos almoçando em um restaurante,
italiano, talvez. Era nhoque. Lembro de
observar atentamente as bolinhas de batata em seu prato durante o discurso.
Eram bois. Bois malhados, cobertos em molho de tomate, e precisavam cruzar um
rio vermelho.
Mas aquelas águas eram infestadas de piranhas e, para que o
rebanho passasse, era preciso que um deles fosse sacrificado. Escolhiam,então,
o boi mais fraco, mais velho ou mais doente e colocavam-no na água primeiro.
Enquanto as piranhas o devoravam, o bando passava ileso.
E as bolinhas de nhoque cruzavam o prato de meu pai. Todas,
menos aquela, a mais amassada, meio deformada. Aquela ficava com as piranhas.
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